Ecofeminismo: nossa responsabilidade com a Mãe Terra
Em 1974, a escritora francesa Françoise d’Eaubonne usou o termo ecofeminismo pela primeira vez no livro Le Féminisme ou la Mort. Nos anos seguintes e na década de 80, a participação das mulheres em conferências e manifestações pacifistas, antinucleares e em defesa do meio ambiente foi se popularizando e crescendo.
Em 1987, a filósofa norte-americana Karen Warren escreveu o artigo Feminism and Ecology: Making Connections (Feminismo e Ecologia: Fazendo Conexões), no qual afirmou que o ecofeminismo é uma visão filosófica, uma tendência ética e um movimento político.
O pensamento ecofeminista estabelece um paralelo entre as muitas formas de violência contra a mulher e contra o planeta Terra e o meio ambiente. Ambas partem do mesmo sistema patriarcal capitalista, mecanicista, industrializado, hierárquico, militar e exploratório dos recursos naturais, que também promove opressão baseada em raça, classe, gênero e sexualidade.
Ver o planeta como um ecossistema vivo, uma Mãe, um útero onde moramos é uma forma de se conectar com o ambiente a qual pertencemos e também de se responsabilizar pela sua preservação.
“O Ecofeminismo é uma ponte entre a preservação do planeta e a opressão contra a mulher. Duas lutas contra um inimigo em comum: o sistema capitalista estabelecido pelos homens, que explora a natureza e as mulheres. E é baseada na observação: se as mulheres são as primeiras vítimas do aquecimento global, elas são pivôs na necessária transição ecológica, atrizes principais no desenvolvimento de soluções duradouras.”
ALICE JEHAN
LIDERANÇA FEMININA
Ao longo do tempo, diferentes correntes do ecofeminismo vêm acrescentando novas análises e abordagens ao debate. Também existem feministas que manifestaram críticas ao ecofeminismo como um reforço ao papel social das mulheres construído na cultura machista.
Particularmente, acredito na sintonia desses movimentos em união: ecologia e feminismo são causas muito importantes para a sobrevivência do planeta Terra.
E a liderança feminina no ativismo ambiental tem exercido um papel fundamental nas mudanças globais que precisamos promover. São vários exemplos de projetos no Brasil e no mundo: Fundo Social ELAS, Think Olga, Women’s Environmental Network, Three Sisters e AWID são alguns deles.
A jovem ativista sueca Greta Thumberg tem demonstrado como as novas gerações estão muito mais envolvidas com as questões de sustentabilidade e dispostas a atuarem como agentes de transformação.
Agentes de transformação
A liderança feminina no ativismo ambiental tem exercido um papel fundamental nas mudanças globais que precisamos promover
PENSAR GLOBAL, AGIR LOCAL
O ecofeminismo, na minha visão, abrange tudo aquilo que escolhi abordar nesse blog: saúde e bem-estar da mulher, terapias e produtos naturais, maternidade, nutrição natural, consumo consciente e responsabilidade ambiental. Tudo está conectado e o autocuidado é o ponto de partida para se fortalecer e apoiar um modo de vida que favorece todo o coletivo. O micro se reflete no macro.
Como profissional de saúde integrativa atuando com mulheres, um tema que me mobiliza é a violência institucionalizada sobre a saúde reprodutiva da mulher: o controle artificial sobre a sua fertilidade e a medicalização da gestação e do parto retirando o protagonismo feminino. O ecofeminismo compara essa condição à dominação da agricultura transformada em agronegócio, com a implantação de sementes patenteadas modificadas geneticamente, com o uso de agrotóxicos e a degradação dos ecossistemas.
%
dos gases de efeito estufa provém do modelo industrial de agricultura
Além disso, 40% dos gases de efeito estufa provém do modelo industrial de agricultura. Esse modo de produção vem custando a saúde de milhares de pessoas.
Também é necessário ressaltar a quantidade de substâncias tóxicas e nocivas presentes no ar, na água e nos produtos inseridos pela indústria em nossa rotina – principalmente nos produtos de higiene pessoal, cosméticos e de limpeza – que danificam nossa saúde reprodutiva e fertilidade, atuando como disruptores endócrinos.
“A Natureza tem sido definida como mulher, e ambas foram definidas em objetificação e, portanto, como objetos de violência. O Ecofeminismo é uma celebração da criatividade da natureza e da criatividade da mulher”
Vanda Shiva, ecofeminista, filósofa e cientista.
Ecofeminismo na prática
No artigo 10 atitudes sustentáveis que podemos adotar em 2020, mostro dados sobre o desmatamento na Amazônia em 2019 e as escolhas práticas que precisamos fazer para causar um impacto positivo nas questões ambientais.
Nosso envolvimento com a preservação do meio ambiente passa pela perspectiva social e política e principalmente pelo consumo consciente. Mas antes disso, é importante aprofundar nossa experiência de comunhão com a natureza e nos reconhecer como parte dela.
Nós mulheres podemos ampliar a consciência sobre a nossa real conexão com a natureza e sua face criativa, compassiva, fecunda, provedora, nutridora, selvagem e regeneradora.
Uma caminhada na floresta, na praia, em um parque da cidade ou até mesmo uma pausa no jardim ou na varanda em casa pode ser um hábito diário que aumenta nossa qualidade de vida e nos fortalecer para viver e lutar pelas causas que acreditamos em uma sociedade que está adoecida.
Vou encerrar com um texto da filósofa Charlene Spretnak, que em 2012 recebeu o prêmio Demeter como uma das principais visionárias feministas do nosso tempo, mas antes quero convidar você a deixar seu comentário: o que você acha da liderança feminina no ativismo ambiental?
Compartilhe nas redes sociais e continue seguindo nosso conteúdo, porque vamos falar sobre essa temática nos próximos textos.
“Nossa sociedade está perdida e confusa. Talvez a estratégia mais eficiente para nós – e certamente a mais difícil – é liderar pelo exemplo: contribuir para uma nova base filosófica e trabalhar em sua nova ecopolítica e ecoeconomia; se organizar em torno de questões concretas de sofrimento e exploração; falar claramente mas sem malícia contra aqueles que promovem políticas de injustiça e ignorância ecológica; nutrir o relacionamento com colegas, nunca sentindo que precisamos ridicularizar e esmagar aqueles com quem não concordamos – mas acima de tudo, desbloquear nossas memórias, seguir as “parábolas corporais” da nossa sexualidade; cultivar nossos impulsos espirituais; agir da melhor maneira possível, com coração e mentes puros; celebrar com gratidão as maravilhas da vida na Terra; e buscar comunhão íntima com o mundo natural. Tudo isso é o florescimento do ecofeminismo.”
(charlene spretnak)
