Movimento Slow: por uma maternidade sem pressa
Movimento Slow está cada vez mais em alta no mundo ocidental e se inspira na sabedoria que as medicinas orientais já ensinam há milênios, como o Ayurveda, o Yoga e a Medicina Chinesa.
Tudo começou a partir do slow food, que surgiu na Itália para combater a famosa indústria do fast food e trazer a arte e o prazer de apreciar a comida de forma consciente e se alimentar com qualidade.
E então, veio o slow living, promovendo um estilo de vida mais natural, baseado em valores simples e essenciais para a nossa saúde e bem-estar, buscando desacelerar e priorizando tempo de qualidade para as nossas relações e contato com a natureza.
O Mindfulness e o Minimalismo são outros movimentos alinhadas com essa filosofia de vida.
Já o Minimalismo promove uma mudança na relação com o consumismo. Ao nos desapegarmos do excesso de posses, podemos viver com o que é essencial, sem tanto tempo dedicado a gerenciar coisas, mas vivenciar experiências e cultivar relações.
O movimento Tiny House também me chamou muita a atenção. Tem crescido nos EUA a quantidade de pessoas que estão abandonando o american way of life para viver em micro-casas, construídas com recursos sustentáveis e ecológicos.
Carl Honoré, em Praise of Slowness: Challenging the Cult of Speed
(Louvor à lentidão: desafiando o culto à velocidade)
TEMPO ACELERADO
A crescente onda de pessoas afetadas pelo excesso de estresse, ansiedade, insônia, depressão, chegando até mesma na síndrome de burnout, uma exaustão física e mental extrema, tem levado muitos de nós a esse questionamento do modo de vida. A cultura workaholic, multitasking e hiperconectada está esgotando muitas pessoas.
Por isso, ver que esses movimentos estão cada dia mais populares é motivo para celebrarmos. Ainda mais no contexto de uma sociedade tão acelerada, movida pela tecnologia, pelo hiperconsumo, pelo excesso de informações instantâneas e efêmeras, e pela destruição do meio ambiente.
No Brasil, importamos comportamentos parecidos assim como as expressões em inglês. Pesquisando na internet, encontramos a expressão slow usada em vários movimentos: slow living, slow fashion, slow travel, slow birth, slow postpartum, slow parenting, slow education.
É curioso, ver isso tudo vindo dos Estados Unidos, uma sociedade que atingiu o auge do consumismo, da tecnologia e de uma vida acelerada dedicada ao trabalho e ao status.
Na teoria Yin Yang da Medicina Chinesa, quando o Yang atinge o ápice, transforma-se em Ying e vice-versa, como podemos ver no círculo da figura abaixo.
Essa comparação reflete que provavelmente chegamos mesmo no auge de uma vida hiperconectada e acelerada e que as pessoas estão fazendo o movimento inverso, procurando outros valores para guiar suas escolhas de vida.
MATERNIDADE SEM PRESSA
Quero trazer essa reflexão para a maternidade, uma fase em que a mulher passa por muitas transformações, estresse e uma grande carga de responsabilidades, junto com outros sentimentos de alegria e realização.
A pressa começa no nascimento: a data da cirurgia tem hora marcada. O sistema médico não pode esperar um trabalho de parto começar quando o bebê estiver pronto.
Infelizmente, o Brasil é o segundo país com a maior taxa de cesárias do mundo, com 55,5 % dos partos, segundo um estudo publicado em 2018 pelo jornal científico The Lancet, que aponta que a intervenção tem sido realizada em um número muito maior do que o necessário.
A recomendação da Organização Mundial da Saúde é de que apenas 10 a 15% do total dos partos sejam por cesariana.
E os Estados Unidos têm um baixo índice de aleitamento materno, pois as mulheres logo retornam ao trabalho. Lá, a licença maternidade dura apenas 12 semanas sem remuneração.
Em 2018, o governo norte-americano se posicionou contra a ONU sobre o incentivo à amamentação, com ameaças comerciais aos países dispostos a apoiar a iniciativa.
Decisão certamente baseada em interesses econômicos envolvendo o lucro da indústria alimentícia e farmacêutica.
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DOS PARTOS São cesária - segunda maior taxa do mundo
Já o Brasil está mais avançado nesse assunto, pois a promoção do aleitamento materno é política pública desde a década de 80.
Slow Birth defende o parto humanizado e Slow postpartum promove os cuidados no puerpério respeitando o resguardo para que a mulher possa se fortalecer e se dedicar à amamentação.
Algo que é muito natural mas que foi subtraído da mulher, que teve o seu protagonismo roubado na sociedade patriarcal em relação a assuntos que envolvem sua saúde reprodutiva. Falo mais sobre isso, no artigo Ecofeminismo: nosso compromisso com a Mãe Terra.
Esses movimentos são muito importantes para trazer informações e empoderamento às mulheres. Cabe a nós continuarmos a propagar os benefícios do parto humanizado e da amamentação e promovermos as mudanças que queremos ver.
Viver devagar não é viver sua vida em câmera lenta; é fazer tudo na velocidade e ritmo certos, em vez de correr. Pela mesma lógica, a vida lenta não significa perder tempo indo devagar; é ganhar tempo fazendo as coisas mais importantes para você.
SLOW PARENTING, SLOW EDUCATION: INFância sem pressa
Ambos se tratam de desacelerar a infância na criação e na educação escolar.
Respeitar o ritmo individual de cada bebê em vez de estabelecer aquela comparação e excesso de estímulos para a criança se desenvolver e passar logo para a próxima fase: introdução alimentar, sentar, engatinhar, andar, falar.
Ao entrarem no período escolar, muitas crianças recebem uma agenda cheia de atividades para preencher todos os horários, pois os pais estão trabalham muito. Uma geração cada vez mais acelerada é possível? É humano?
Por isso, a reflexão que quero propor é: bebermos nas fontes originais da sabedoria oriental. O yoga, a meditação, o ayurveda, a medicina chinesa trazem ensinamentos que nos ajudam a estabelecer um ritmo de vida mais natural, mais harmônico e equilibrado, alinhado com a natureza.
Na gestação e na maternidade, é quando mais precisamos de calma e tranquilidade
A maneira como um bebê chega ao mundo influencia o resto da sua vida. Seus primeiros meses têm um impacto em toda a sua formação.
Buscar esse equilíbrio reflete em toda a família. Nosso filhos irão se espelhar no que somos, em como vivemos.
Uma transformação em cada família se reflete em toda a nossa comunidade.
Dessa forma, deixo algumas reflexões:
Você tem uma rotina de cuidados? Escolhe alguns momentos do dia e da semana para desacelerar, ficar em silêncio, meditar, dormir, fazer uma atividade que dê prazer?
O mundo continua acelerado, mas quando a gente se permite simplesmente parar?
Continuarei abordando aqui cuidados naturais no parto e no puerpério. Sigam as nossas redes sociais e assinem a newsletter para ficar por dentro!