Ciclo feminino: endometriose, visão da Medicina Chinesa

Recapitulando, a endometriose não é somente uma doença relacionada ao sistema reprodutiva,  é multissistêmica e pode envolver o sistema imune, o sistema linfático, o sistema digestivo e o sistema endócrino.

Sendo assim, é preciso compreender como o tratamento pode atuar nos diversos sistemas corporais relacionados à patologia.

O objetivo é tratar a pessoa como um todo e não somente a doença.

Os princípios da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) explicam que tudo na natureza vibra Qi, uma energia vital sutil que conecta corpo, mente e espírito.

O livre fluxo de Qi circulando pelos meridianos (canais) do corpo é essencial para a boa saúde. Cada meridiano corresponde a um órgão ou víscera, que possui funções energéticas além das fisiológicas.

A alimentação saudável e a respiração são os meios fundamentais para promover e nutrir Qi no organismo.

Não pretendo abordar todo o panorama da Medicina Chinesa sobre a endometriose, pois seriam diversas aulas ou um livro. A intenção é mostrar que a Medicina Chinesa pode ser uma terapia complementar para apoiar a mulher portadora de endometriose.

“Ao tratar uma doença, o primeiro passo deve ser a terapia dietética. Somente quando isso não resultar em sucesso, você deve recorrer à acupuntura.”

SUN SI MIAO (581-682)

Procure um acupunturista sim, ou um naturólogo, para associar outras terapias junto com a Medicina Chinesa. Mas não deixe de cuidar da alimentação para ter uma mudança real com efeitos duradouros. Vamos falar mais sobre isso a seguir.

A endometriose resulta da estagnação do fluxo sanguíneo na região pélvica e abdominal.

Estagnação do sangue e do Qi, deficiência do Qi do Rim, excesso de umidade são alguns dos possíveis “diagnósticos” da medicina chinesa.

Os meridianos do Fígado, do Baço e do Rim atravessam a pélvis e o abdômen e se algum deles estiver bloqueado, congestionado ou deficiente, isso pode se manifestar na mulher como algum tipo de problema menstrual.

O Fígado é um dos principais fatores a considerar quando falamos sobre os ciclos das mulheres. Na MTC, o termo “fígado” descreve não apenas o órgão real, mas também sua função energética. O fígado estimula e harmoniza o útero, regula o sangue, o ciclo menstrual e a reprodução. Mantém o Qi e o Sangue fluindo livremente por todo o corpo e mente.

No aspecto fisiológico, o fígado precisa metabolizar o excesso de hormônios, além da alimentação. Apoiar as funções energéticas e fisiológicas do fígado é um dos princípios do tratamento, que pode ser feito por meio de acupuntura e fitoterapia, com ervas específicas.

A estase sanguínea é uma condição em que pequenos vasos não são capazes de transportar o fluxo sanguíneo normalmente. É a causa de dor intensa, especialmente na parte inferior do abdômen durante a menstruação, e acredita-se ser responsável por casos de sangramento menstrual excessivo e infertilidade. Mulheres com estase sanguínea apresentam fluxo anormal, o que pode desencadear uma resposta negativa do sistema imunológico devido às células endometriais que crescem fora do útero.

Xue é o nome associado ao sangue na medicina chinesa, que também tem suas funções fisiológicas e energéticas importantes no ciclo menstrual. Fortalecer Xue por meio da alimentação é essencial.

A medicina chinesa reconhece que os estados emocionais excessivos podem se tornar patológicos e causar sintomas físicos. Esse aspecto também precisa ser considerado na abordagem terapêutica.

O conceito da Medicina Chinesa de uma dieta equilibrada é muito diferente do ocidental e leva em consideração não apenas os nutrientes dos alimentos, como vitaminas e minerais, mas também os sabores, as energias e os movimentos dos alimentos em relação aos diferentes órgãos do corpo.

Como falado no primeiro artigo, a dominância estrogênica pode estar relacionada ao quadro de endometriose, no qual ocorre o aumento do hormônio estrogênio.

A acupuntura promove a circulação de Qi e de Xue (sangue), regula os hormônios e tem uma ação anti-inflamatória, sendo eficaz no alívio da dor por meio do efeito nos níveis de endorfina.

As ervas na fitoterapia chinesa são outro recurso que pode compor o tratamento, assim como o moxabustão, técnica que usa o calor por meio de um bastão feito de artemísia, planta muito usada nos distúrbios femininos. E a auriculoterapia, que consiste na aplicação de sementes em pontos do pavilhão auricular, como um microssistema que reflete e corresponde a outras partes e órgãos do corpo. 

A atividade física é importante para ativar a circulação de Qi pelo corpo. Além do que já comentei no primeiro artigo, destaco o Qi Gong como uma opção interessante.

O Qi Gong é uma prática chinesa com movimentos, posturas, respirações e visualizações para absorver e circular

Pratico o Qi Gong há uns 5 anos e percebo os benefícios para a saúde como um todo e recomendo muito para quem está sedentária e precisa começar com alguma atividade. Foi tema do meu TCC em Naturologia e em breve escrevo mais a respeito.

Cultivando Yin, nosso lado feminino

Yin é o símbolo do feminino, da suavidade, da devoção, da interiorização, do recolhimento, da profundidade, da passividade. Yin nutre, dá a forma.

Ying simboliza a noite, a lua, o frio, a água.

Enquanto Yang simboliza o dia, o sol, o calor, o fogo.

Yang representa o masculino, ação, o movimento, a força.

Mulheres e homens precisam manter um equilíbrio dinâmico entre feminino e masculino. Ying e Yang se complementam e dependem um do outro.

Para compreender as doenças do sistema reprodutivo feminino, precisamos olhar para o desequilíbrio do Yin. As mulheres que desenvolvem endometriose podem ter um quadro de diminuição do Yin e aumento do Yang.

Se estamos com algum desequilíbrio ligado aos órgãos femininos, podemos nos perguntar: estamos cultivando nosso lado Yin? Será que precisamos dar maior atenção para as nossas necessidades de introspecção, pausa, espera, descanso?

Na endometriose, os órgão pélvicos (Yin) estão inflamados, obstruídos e invadidos pelo tecido endometrial (estagnação e aumento de Yang). Consiste em uma doença com perda da substância feminina.

Interpreto que a mulher grávida é o ápice do Yin. Ela precisa esperar 9 meses, não adianta acelerar. A gestante precisa ser receptiva ao feto que ali faz morada, precisa acolher, nutrir, se entregar. É um momento de bastante recolhimento, de uma vida interior muito rica e profunda.

Independente de vivenciar a maternidade, a mulher precisa fazer tudo isso para si mesma em primeiro lugar. Se acolher, nutrir, “se maternar”. Assim ela está mais preparada para se abrir para a maternidade ou para usar a potência criativa do útero para outros projetos e iniciativas que ela quiser gerar.

Assim como a água, Yin é fluido e se adapta. Observar o descanso, principalmente no período menstrual. Programar pausas e momentos de autocuidado. Assim, ela está mais  ancorada e centrada para viver o lado Yang, ir para a ação, para a correria do dia a dia, fazendo escolhas e respeitando seus limites.

Esse padrão tem sido observado e apontado como relacionado à doença, mas entendo o quanto pode ser difícil absorver essa informação. Cada caso é um caso e precisamos filtrar o que se aplica a cada pessoa.

Realmente vivemos uma era muito agitada, as mulheres precisaram assumir uma vida multitarefas e, muitas vezes, não conseguem se colocar em primeiro lugar. A doença está pedindo uma atenção maior para o corpo e para si mesma. 

Cultivar o Yin é uma necessidade da psique feminina. Ative sua intuição para descobrir como pode fazer essa conexão no dia a dia.

No artigo Ciclo feminino e Medicina Chinesa, aprofundo sobre esse tema. Leia também.